“Um dia, acordei com essa gripe dos infernos. Daquelas que te pegam e te derrubam na cama. Tive que ficar em casa o dia inteiro espirrando e tomando xarope. Lá pras 18h, o telefone tocou. Era meu namorado. Eu tinha esquecido totalmente que era dia dele vir aqui em casa e esqueci de avisá-lo da gripe.
— Desculpa, amor. Mas eu acho melhor você não vir hoje. Eu tô um caco, sabe? Só vou servir pra te passar gripe e espirrar em ti.
— Você tem certeza?
Na verdade eu queria muito ele aqui. Mas pra quê sacrificá-lo só por egoísmo meu?
— Absoluta. Vai fazer coisas divertidas, sei lá. Joga video game, engravida alguém, arranja uma nova namorada, porque a sua está meio defeituosa.
Todos tinham saído de casa e eu tinha a sensação de que um rolo compressor tinha passado em cima de mim. Eu estava na cama, abraçada com um travesseiro, assistindo algum programa que eu nem ligava em saber qual era.Então a campainha tocou. E quando abri a porta, eu quase esqueci de estar doente e pulei nos braços dele.
Apontei para as sacolas que estavam na sua mão. — O que é tudo isso?
— Bom… — ele parecia envergonhado — eu meio que pesquisei na internet algo bom pra gripe e vi essa tal sopa…. então comprei os ingredientes, eu sei que você vai chiar, mas você vai ter tomar, amor. Daí eu passei na farmácia no caminho e pedi pra separarem alguns remédios. Acho que exagerei.
— Você vai fazer sopa pra mim? — Eu não conseguia tirar o sorriso do meu rosto. Parecia que ele tinha dito “vou salvar o mundo”, “trouxe a paz mundial”, “encontrei a cura para o câncer”.
— É… você só precisa me mostrar como liga o fogão. — ele tentou segurar o riso.
Eu estava sentada, observando ele se atrapalhar com os ingredientes e resolvendo colocar tudo dentro da panela. Quando não resisti e soltei.
— Porque você veio?
— Porque eu tinha que vir.
— Não… você não tinha. Eu te deixei livre pra fazer outra coisa, deixei claro que você não precisava vir. E mesmo assim você está aqui. Porque? Não é como se eu fosse ficar com raiva. Ter que cuidar de uma doentinha não é algo legal de se fazer.
Ele estava olhando pra panela enquanto falava — Na saúde e na doença.
Bufei. — Isso são votos de casamento amor. A gente não é casado.
— Ainda. Mas eu tenho que começar desde cedo, né? Ir logo me preparando.
E então, eu soube. Não eram grandes feitos, gigantescas declarações de amor, flores ou surpresas inesperadas que demonstrava realmente o que uma pessoa sentia pela outra. Eram coisas simples, bobas. Como fazer uma sopa, por exemplo. Como cuidar do outro, quando está doente. Ficar do lado, segurar a mão quando ele estiver com medo, abraçar quando sentir frio. São esses pequenos detalhes que fazem toda a diferença.
E quando ele tocou a campainha da minha casa, era a forma mais pura e verdadeira que ele podia, de dizer um “eu te amo” pra mim.“