Eu tamborilava os dedos na mesa de centro em um ritmo que irritava até a mim mesmo. Com a outra mão, eu mexia no celular, sem realmente fazer nada, mas só pra não me sentir tão constrangido. O clima já era pesado e eu só piorava agindo desse jeito. Só que como ela não disse nada, eu continuei. Mas Alice foi a primeira a quebrar o silêncio tenso:
— Dá pra parar? Minha mão congelou. Um segundo depois, recomecei.
— Parar com o quê? Eu tava deitado no sofá e de costas pra ela, mas praticamente podia sentir o olhar dela me degolando, o que só colocou um sorrisinho na minha cara e me incentivou a tornar o barulho ainda mais irritante. Eu não sabia por que a gente tava quase entrando pro tapa, mas com certeza não ia ser o primeiro a baixar a guarda.
Destruição mútua. Ela riu, seca. Virei a cabeça e, por baixo da aba do boné, dei um daqueles olhares que eu sabia que ela odiava.
— Muito maduro.
— Vindo de você…
— Vai se foder. Eu ri.
— Gosto quando você fala sujo assim. Ela bufou e levantou do outro sofá, marchando pro quarto, chutando o que encontrava pelo caminho. Me levantei num pulo e me coloquei na frente dela.
— Sai da frente.
— Ou o quê? — desafiei-a.
— Vai me chamar de idiota? Babaca, talvez? Estúpido? Não, espera… Otário? Ou o meu apelido preferido, “verme”? Vai me estapear por absolutamente motivo nenhum?
Atirar alguma coisa em mim? Ela me encarou.
— Faz alguma dessas coisas, então — completei.
— Mas para de me ignorar. Ela não se mexeu. Passei a ponta dos dedos pelo rosto dela e depois coloquei uma mecha do cabelo atrás da orelha.
— Alice, qual é… Ela simplesmente desviou de mim e continuou andando. Agarrei-a pelos braços, prendi a parte de trás do corpo dela na parte da frente do meu e a encostei na porta do quarto. Levei minha boca até o ouvido dela.
— Acho que você devia parar de descontar o fato de que você não tem capacidade emocional pra lidar com as pessoas gostando de você e essa tensão sexual toda em mim — resmunguei e depois mordi a orelha dela.
— Sério, só… Conversa comigo.
A resposta foi uma cotovelada no meu estômago. Eu me afastei, tossindo. Fiz uma careta.
— Desnecessário. Ela se virou.
— Foi, mas me sinto melhor agora. Me preparei pra recomeçar a discutir, mas me detive.
Ela é complicada, eu disse pra mim mesmo. Você sabe disso. Tem problemas com o pai e um soco que dói. Não provoca.
— Qual o problema? — perguntei.
— Não tem problema nenhum.
— Então tá agindo assim por quê?
— Assim como?
— Alice.
— É legal quando fazem isso, né?
— Alice — repeti. Ela suspirou, fechou os olhos e encostou a cabeça na porta do quarto.
— Não é nada. Nada mesmo. Eu a beijei. No começo ela recuou e tentou me afastar, mas depois cedeu. Arrancou meu boné com uma mão e agarrou meu cabelo com a outra, puxando-o com raiva. Eu podia sentir a frustração na boca dela e a prensei contra a porta.Abri a porta do quarto com um empurrão depois de descer com a mão apertando o corpo todo dela. Mas a gente acabou andando rápido demais e tropeçando nos pés um do outro, o que nos levou a um tombo desajeitado em cima da cama. Ela riu do meu mau jeito. Eu saí da cama, ela ficou deitada. Tirei meus tênis, meio apressado e depois cuidadosamente tirei os dela. Não desgrudei meus olhos dela. Ela mordia a ponta do travesseiro enquanto me olhava, com uma cara de estressada que era muito legal de ficar observando. Enquanto isso, ela tirou a camiseta. Eu não sabia exatamente como tínhamos passado de briga-com-direitos-a-socos pra… Isso, mas tinha curtido.
Fist fights turn into sex… I wonder what comes next. Coloquei os joelhos na cama e me ajeitei sobre ela, depois subi com as mãos pelas pernas da Alice, devagar. Desci a boca com cuidado até a barriga e, depois de depositar dois beijinhos ali, desabotoei o short dela. Eu sorri quando ela mesma começou a descê-lo com as mãos, impaciente e eu mesmo puxei o resto dele, jogando-o pra fora da cama. Deitei sobre ela com cuidado, ela passou os braços pelo meu pescoço e me beijou… De um jeito doce dessa vez. Enquanto ela me beijava, eu subia minhas mãos pela barriga dela, até chegar nos seios.
— Pietro — ela disse em com a respiração um pouco alta quando sentiu meu apertão.
— Eu gosto dessa camiseta que você tá usando. Mas acho que eu deveria tirá-la pra você. Eu sorri. Senti as mãos dela subindo pelas minhas costas, trazendo minha camiseta junto e deixei que ela tirasse. Depois disso, arranhou com força do meu ombro até a minha cintura, realmente cravando as unhas, deixando marcas. Pressionei meu corpo contra o dela por causa da dor. Eu gemi baixo e fiz uma careta.
— Machuquei você? — ela sorriu contra os meus lábios.
— Foi uma dor gostosa — respondi.
— Tô marcando território — ela passou as mãos por onde havia arranhado, fazendo só carinho dessa vez.
— E isso significa que?
— Você é meu.
Puxei o corpo dela um pouco pra cima pra poder tirar o sutiã, e o puxei lentamente pelo braço. Agora eu estava nos seios dela; a boca em um e a mão no outro — eu sabia que ela gostava disso. Bastante. Beijei, chupei, passei a língua por eles, tentei morder delicadamente e cada vez que a minha língua atingia um ponto mais sensível, ela dava um puxão forte no meu cabelo, me incitando a continuar. Minha outra mão alternava em acariciar as coxas dela e a virilha, e volta e meia ela se retorcia contra o meu corpo. Deixei um dos meus dedos deslizar pela calcinha dela e pude sentir a umidade. Ela gemeu, primeiro um “puta que pariu”e depois o meu nome.
— Vai, Pietro… Por favor.
— O que? — respondi, parando meus movimentos e ajeitando meu corpo sobre o dela, minha perna estrategicamente enfiada contra as coxas dela.
— Você sabe — ela falou entre os dentes, a mão se atrapalhando ao tentar desabotoar minha calça. Ajudei-a, desabotoando e baixando o zíper de uma vez só, mas guiei a mão dela pra dentro da calça ao invés de tirá-la.
— Não posso te dar o que você quer se você não me falar.
— Você só quer me ouvir falar.
— Verdade. Ela puxou meu queixo e nos beijamos de novo, agora com mais intensidade, enquanto a mão dela subia e descia pela minha cueca, dando leves apertões. Tentei tirar a calça sem interromper o movimento dela, e quando consegui, ela me rolou na cama e montou no meu colo. Ela me arranhou de novo, do peito até a barriga dessa vez, mas nem senti muito bem. Eu tava concentrado em um pouco mais abaixo. A segurei pelo quadril no meu colo e quando ela recomeçou nosso beijo, também começou a rebolar. Foi a minha vez de soltar um gemido. Ela lambeu meus lábios, minha língua, o queixo, e depois a bochecha, até chegar ao meu ouvido.
— Pelo que eu me lembro você gosta desse jeito — ela sussurrou, aumentando um pouco ritmo com o quadril. Pressionei minhas mãos na cintura dela e ela cravou as unhas contra minha nuca em resposta, gemendo um pouco no processo.
— Lembro que você também gosta dos meus gemidos. Desci as mãos pras coxas, apertando-as. Balancei a cabeça, excitado demais pra responder na mesma hora.
— Na verdade — falei um tempo depois, minha voz soando abafada e minha respiração pesada
— Eu amo seus gemidos. Sou apaixonado por eles.
E por você.
(Ponto de vista da Alice)
E eu travei. Quando ele disse a palavra com “A”. Mesmo conseguindo provocar uma piscina entre as minhas pernas, ele conseguia me broxar com uma frase. Porra, Pietro, sério,
não dá pra você manter a boca fechada? Ou usá-la pra algo mais útil do que falar? Eu queria que ele brigasse comigo. Fosse cruel. Gritasse. Esfregasse na minha cara que eu era uma vadia porque eu brincava com ele. Eu queria uma razão pra poder afastá-lo, mas o menino era muito insistente nisso de tentar fazer as coisas certas. Ele notou que eu parei de me mexer e estendeu a mão até meu rosto, pegando meu queixo.
— Que foi? — ele perguntou, parecendo preocupado.
— Por que parou? Eu sai do colo dele, sentando na beira da cama e apoiando meu rosto nos joelhos.
— Alice — ele sentou atrás de mim, colocando as pernas em volta das minhas e envolvendo minha barriga com os braços, falando perto do meu ouvido, a voz carinhosa.
— Foi o que eu falei? Ele beijou minha orelha, pescoço, nuca, costas e ficou acariciando minhas costas.
— Desculpa. Me livrei dos braços dele e me virei de frente, enchendo-o de tapas nos ombros e no peito. Ele segurou meus pulsos com força contra o peito dele e me encarou, confuso.
— Por que você tá surtando?
— Eu não tô surtando. Por que eu estaria surtando?
— Você tá surtando.
— Meu Deus. Eu tô surtando.
— Por quê? Sentei na cama. Ele pegou a camiseta dele de cima da cama e me fez colocá-la, depois veio sentar do meu lado.
— Por isso você tava toda querendo me matar antes, não?
— Basicamente. Ele sorriu. Dei um soco de leve no ombro dele.
— Não é engraçado, babaca.
— Claro que é.
— Por que seria?
— Você gosta de mim — ele disse, a voz soando extremamente confiante. Fiz uma careta.
— Disso eu sei. Você pode negar um monte de coisas, isso não. Você pode não estar se apaixonando por mim, ou não gostar tanto,
mas você gosta. Mesmo que não muito.
Não neguei. “Não muito.” Babaca. Senti aquele habitual friozinho na barriga.
— Mas você sempre surta — concluiu.
— Eu?
— Você. Por mais ótimo que esteja entre a gente, por mais gostoso que tudo fique, você me afasta. Você tem um jeito bem distorcido de mostrar que gosta das pessoas.
— A gente não tem nada, certo? — perguntei.
— Tecnicamente.
— Você não é meu.
— Antes você disse que eu era.
— E vice-versa — continuei, ignorando-o.
— Se eu deixar… Se eu permitir que isso vire algo de verdade, e depois nós… E depois a gente terminar, eu vou estar perdendo algo. De verdade. Tô cansada de perder coisas.
— A gente já tem algo.
— Não é a mesma coisa.
— Toda vez que você me afasta, você corre o risco de perder o que a gente tem.
— Não é igual.
— Só na tua mente que não.
— Não é assim.
— Você prefere enfiar sua cabeça em mil outras coisas só pra não encarar que gosta de mim. Eu mexo contigo. Se não mexesse, isso não teria te impedido de continuar o que a gente tava fazendo antes. Eu fiquei quieta. Passei a ponta dos dedos pelo elástico da cueca dele, depois desci pra coxa, me sentindo inquieta.
— Por que tu quer tanto ficar comigo? Ele ergueu as sobrancelhas.
— Eu tenho que fazer uma lista de motivos? Ou você acha melhor eu desenhar?— ele se irritou.
— Sério que você quer que eu responda isso?
— Não fica puto — eu pedi.
— É que sei lá essa. As coisas são bem disfuncionaisentre a gente.
— E você é complicada. Eu sei. E isso não vai funcionar.
E todo esse seu mimimi. Viu? Até já sei o que você vai falar. Eu ri.
— Então por que arriscar?
— Porque eu não ligo. Não gostaria de estar funcionalmente — ele sorriu da expressão
— com outra pessoa.
— Olha, vê se você entende isso:
eu sou tipo um carro — falei, usando a melhor comparação que pude. Homens adoram carros. Mas Pietro é meio garotinha pra tudo, então não sei se ele ia gostar tanto da analogia.
— Mas eu não tenho motor. Você pode achar legal ter um carro bonitinho na sua garagem, acha que isso pode te fazer bem feliz, mas qual é a vantagem se você ainda tem que andar sozinho pra todo canto? Ele levou a boca até o meu ouvido.
— Eu ainda posso me divertir no banco de trás, mesmo sem motor — ele mordeu minha bochecha.
— Você não é um carro estragado, ok? Talvez seja um carro que precise de um empurrãozinho pra pegar, só isso. Mordi o lábio.
— Pietro… — Não faz essa voz de quem ainda tá confusa.
— Ô, Pietro.
— Tá, vamos pensar em outra coisa. Quer tentar ser só minha amiga? — ele perguntou. Eu ri alto pensando na hipótese.
— Você conseguiria?
— Não. Não posso ser só seu amigo. Não sou só seu amigo.
Amigos não querem pegar amigos. Vai contra as regras da amizade.
— E você quer me pegar — afirmação, não pergunta.
— Bastante — passou a língua pelo meu lábio superior.
— “Bastante” quanto?
— O mesmo tanto que você quer me pegar — respondeu.
— Bastante.
— Quem disse que eu quero?
— Sua mão — olhou pra baixo.
— Ficou apalpando minha coxa durante essa conversa toda. Dei um tapa na coxa dele.
— Não é você. É sua cueca.
Eu gosto de Calvin Klein. Principalmente as pretas. Ele sorriu, malicioso.
— Vou jogar as outras fora, então — e me beijou. Ele me levou pro meio da cama de novo e ficou por cima, puxando o edredom sobre nós e me beijando de um jeito que me deixou meio sem fôlego. Ele já ia tirando minha camiseta quando eu parei o beijo mais uma vez.
— Pietro.
— De novo não, sério. Já gastei meu estoque de melação de hoje. Peguei o rosto dele entre as mãos, fazendo ele calar a boca.
— Shh.
— Que foi agora? — Eu acho que eu talvez possa estar remotamente me apaixonando por você também. Ele sorriu de um jeito tão feliz que eu até me perguntei por que passo tanto tempo negando as coisas que são relacionadas a ele.