quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

“Especial de Natal, algemas e Alietro.



— Sabia que não devia ter te convidado pra me ajudar a montar a árvore de Natal. 
Cruzei os braços no peito, fingindo estar ofendido. 
— Por que não? Eu sou um perfeito Assistente De Montar Árvores de Natal. Totalmente prestativo. E sou gostoso também. Não negue, Alice. Sei que você também acha isso. 
Ela revirou os olhos. 
— Você quebrou as luzes em menos de dez minutos. Isso é parte da sua concepção de “ser prestativo”
— Aquilo foi um acidente — eu disse, na defensiva, tentando arrumar os enfeites na árvore e meio que estragando tudo. — E eu comprei luzes novas, então meio que meu erro foi anulado. 
Ela balançou a cabeça e apertou os lábios em sinal de reprovação, observando minhas mãos. 
— Você tá fazendo errado — disse, dando um tapinha no meu braço. Levantei as mãos, como quem se desculpa. 
— Desculpa, Miss Eu Sou Boa Em Tudo Que Eu Faço. Acho que minhas mãos são melhores pra outras coisas… Mas você sabe disso. 
Ela me deu um soco no peito. Eu a empurrei. Incitei-a a continuar com o olhar, mas ela não revidou. 
— Eu nunca entendi muito bem o Natal — falei. 
Ela me deu aquele olhar que dizia “ah, lá vem o Pietro”. 
— O que é tão complicado de entender? Sei que seu cérebro parou de se desenvolver aos 13 anos, mas cara… 
Ignorei. 
— O aniversário é de Jesus, ou pelo menos acho que essa é a definição da data, mas não sei, eu era péssimo na catequese… Enfim. O aniversário é de Jesus, mas é a gente que ganha presente e se mata comendo chocolate e panetone. 
Ela riu alto. 
— Eu odeio panetone — reclamei. 
— Você só conseguiria piorar isso se falasse “oh, o Natal é uma data tão capitalista! Onde está o sentimentalismo?”. Eu gosto de panetone. 
Sorri, malicioso, e andei alguns passos até ficar atrás dela, empurrando o braço dela de leve e a fazendo derrubar a bolinha que estava arrumando na árvore. 
— Ah, não. Eu adoro capitalismo e feriados capitalistas e tudo mais. Não diria isso — beijei a bochecha dela. — E claro que você gosta de panetone. Você é estranha. 
Subi a mão direita pelas costas da Alice por baixo da camiseta e distribui beijos pelo ombro dela. Agarrei o quadril com a outra mão e a puxei um pouco mais pra mim, minha barriga e todo o resto do meu corpo colado no dela. Ela virou o pescoço um pouquinho pra que eu pudesse beijar lá também. 
— Pietro. 
Raspei meu queixo pelo pescoço dela e ela se arrepiou quando sentiu minha barba arranhando. Virou a cabeça pra mim. 
— Seu trabalho como meu assistente também envolve me distrair do que eu tô fazendo? 
— Não, esse é meu trabalho como seu… — e na metade da frase eu reparei que não tinha um nome pro que eu era pra ela. — Escravo sexual. 
Ela se virou de frente pra mim, as mãos nas minhas costas, me mantendo perto e me encarando. 
— Escravo sexual? — ela levantou as sobrancelhas. — Você se considera isso? 
Dei de ombros. 
— Você tem uma definição melhor? 
Ela me beijou, provavelmente tentando evitar a pergunta. 
Levei minha mão até a nuca dela e enfiei meus dedos entre os cabelos, primeiro agarrando e depois puxando. A empurrei pra parede logo atrás dela e a joguei lá com um pouquinho a mais de força do que o necessário, mas ela pareceu gostar. Desci a outra mão pela lateral do corpo dela e subi a coxa dela pra minha cintura, enquanto ela roçava a outra perna entre as minhas. 
Continuei esfregando nossos corpos enquanto a gente se beijava e Alice puxou e soltou meu lábio, pra logo após parar nosso beijo, justamente quando eu tava ficando animado. 
— Amo beijar você, Pietro, você sabe o quanto, mas eu tenho que terminar minha árvore de Natal e você não tá ajudando — reclamou contra minha boca. 
“Amo”. 
Ela subiu as mãos por baixo da minha camisa, arranhando meu abdômen. 
Balancei a cabeça e fiz biquinho. Ela fez biquinho também. Mordi o biquinho dela. Coloquei as duas mãos no quadril dela e fiz negativo com a cabeça. 
— Não. 
— Sim. 
— Não. 
— Depois. 
Ela empurrou meu peito e eu me afastei, mesmo contrariado. 
— Só depois? 
— Só depois. 

— Certo. Sinto muito lhe dizer, mas como punição pelos maus modos e pela ingratidão, você acaba de perder seu assistente. 
— Punição? — ela sorriu. — É mais uma benção. 
Sentei no sofá e coloquei as mãos atrás do pescoço. Fiquei a observando montar a árvore, toda cuidadosa e atenta aos detalhes. Ela me olhava rapidamente de vez em quando. 
— Para de me encarar — ela disse. 
— Não tô encarando — me defendi. 
— Quase nada. 
— Tô… Admirando. 
— Tá encarando. 
— Ok, talvez eu esteja. Encarando com admiração. 
Atirei uma das bolinhas da decoração nela. 
Depois de um tempo em silêncio, ela perguntou: 
— O que eu vou ganhar de Natal do meu ex Assistente Gostoso? 
Eu sorri com a referência. 
— Um vibrador — respondi. — Bem grande. E preto. Ele acende umas luzinhas também… 
Ela parou de arrumar a árvore e virou o corpo na minha direção, o rosto sério. Me espreguicei no sofá, a expressão mais inocente do que nunca. 
Pra que eu precisaria de um vibrador se eu tenho você? — ela provocou. 
Levantei as sobrancelhas. 
Eu sou melhor que um vibrador? 
Ela voltou a atenção pra árvore. 
— Nunca experimentei um vibrador — se esquivou da pergunta, a voz baixa. 
— Mas eu sou bom? — insisti. 
Ela me olhou de canto. 
— Cala a boca, Pietro.
Gargalhei. 
— Você não negou! 
— Quieto. 
— Então eu sou bom. 
Ela revirou os olhos, com cara de tédio. 
— Criança. 
— Mas eu sou bom. 
— Infantil. 
— E bom. 

Ela suspirou e não respondeu, sabendo que é inútil discutir comigo. Era realmente fofinho assistir ela arrumando a árvore de Natal toda feliz. 
— Alice — chamei. 
— Pietro. 
— Olha pra mim. 
Ela olhou. Bati a mão na minha coxa. 
— Vem cá. 
Ela balançou a cabeça em sinal de negativo. 
— Por que eu iria? 
— Só vem. 
Alice andou preguiçosamente na minha direção e eu me ajeitei no sofá. Ela sentou no meu colo de pernas abertas e se arrumou sobre mim, as mãos no meu pescoço. As minhas estavam nas coxas dela e eu a pressionava contra o meu colo. 
— O que você acha que o Papai Noel vai te dar esse ano? 
Ela me analisou, o olhar levemente malicioso. 
— Não tenho ideia — e subiu uma das mãos pro meu cabelo, na nuca. Levei a boca até o pescoço dela. 
— Você foi uma boa menina ou uma má menina esse ano? — perguntei, movendo a boca do pescoço até a orelha. — Eu acho que você foi má. 
Eu queria muito saber por que tudo que você fala soa tão pervertido.
Ela me beijou, movendo o corpo mais pra cima do meu conforme a intensidade do beijo aumentava. Apertei a coxa dela enquanto ela puxava meu cabelo. Ela parou de me beijar, mas manteve nossas bocas próximas, a respiração pesada batendo contra os meus lábios. 
Acho que fui uma menina má esse ano. 
Apertei a coxa dela com um pouco mais de força e depois sorri. 
— Sério? Então eu acho que vou ter que te punir. 
— Isso envolve chicotes e essas coisas sadomasoquistas ou só uns tapinhas resolvem? — ela puxou minha cabeça pra trás, deixando meu pescoço livre e o encheu de mordidas. 
— Não sei. Pensei em comprar umas algemas e te prender na cama por um dia inteiro. 
— Por que essa sua ideia não me surpreende? — ela voltou a me olhar. 
Dei de ombros e me fiz de indiferente. 
— Sou previsível. 
Me inclinei para beijá-la novamente, mas ela me parou, o braço no meu peito. 
— Por que não? 
Ela olhou pra trás. 
 Árvore de Natal. Ainda não terminei. 
E se levantou, saindo do meu colo. Me deixando totalmente… Ahhhhhh. 
— Sério? Você me beija desse jeito e depois vai terminar a Árvore de Natal? Sério? — Garotas sabem manter suas prioridades. 


E às vezes eu esquecia como ela podia ser má comigo.”


Vitor Danúbio