terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Amor a segunda vista




E agora que eu tenho certeza que você não é ‘aquele’, eu me descubro cagando um monte pra tudo isso. Porque você não é perfeito, mas o cara dos meus sonhos não tem o desenho da sua boca: com mais tinta do que contorno. 
O homem perfeito é um puta de um chato com seus cds cults e cartazes de filmes europeus pela sala. Você com aquele seu vinil incansável do Bob Marley é muito divertido, porque a gente briga até não agüentar mais por causa dele e depois faz as pazes transando do nosso jeito. 
Porque o homem perfeito é cheio de estripulias sexuais, mas eu detesto estripulias e adoro nosso jeito intenso de se amar cheio de inconformismos com a intensidade. Eu sonhei sim com esse cara, que me levaria tomar sopas quentinhas em lugares com jazz e olharia para mim a noite toda achando que maior diversão no mundo não poderia haver. 
Mas você com essa sua mania de encher de amigos as pizzarias e soltar um ou outro “irado” me faz te odiar tanto e querer tanto a sua atenção. E me faz querer tanto você daqui a pouco, porque você não enjoa. Você me cansa demais mas não enjoa. E quando você me cansa eu enfio a minha cabeça no fortinho do seu peito, eu que sempre odiei os malhados, e peço a Deus para que eu nunca desista de te odiar tanto assim, porque não pode existir ódio mais cheio de borboletas, notas musicais e passarinhos azuis. 
Eu quero sim te matar, porque você tem uma mania surda de responder todas as minhas perguntas com um “ãhhh?” enjoado, e eu quero te socar porque você já descobriu tudo o que me irrita e gosta de me ver assim. 
Mas quando qualquer outra coisa no mundo me irrita, eu lembro que eu tenho você pra me fazer sentir essa raiva nossa de sitcom inteligente. E sua cara de sonso despretensioso para a vida, enquanto eu coleciono rugas, berros e inchaços. A sua cara de que “não é comigo” vai muito bem com a minha máscara da agressividade que acredita que tudo é comigo. 
E o homem perfeito tem um beijo profundo e ritmado, que de tão melado e encaixável me deixa saciada de um jeito que encerra o meu desejo. E você tem um jeito caótico de me beijar meio burro, porque se eu vou para um lado, você vai para o mesmo. 
E é nesta única hora em que você não deveria concordar comigo, que você concorda. E eu nunca me dou por satisfeita, e acabo achando que a gente ainda nem deu o nosso primeiro beijo, o que me causa uma ansiedade de paixão inicial que não deixa o peito relaxar. 
E o homem das minhas ilusões me deixaria relaxar numa enorme cama amorosa, e acordaria inúmeras vezes para me ver dormir abraçada a toda a certeza que ele me daria com apenas um segundo de olhar. 
É cansativo viver sem vírgulas porque eu respiro a sua existência 24 horas por dia, e só coloco vírgulas teatrais para você não enjoar de mim. Te amar não é fácil, é quase o anti-amor. É muito quase como se você nem existisse, porque só o homem perfeito mereceria tanto sentimento. 
E eu te anulo o tempo todo dizendo para mim, repetindo para mim, o quanto você falha, o quanto você fraqueja, o quanto você se engana. E fazendo isso, eu só consigo te amar mais ainda. 
E a gente vai por aí, se completando assim meio torto mesmo. E Deus escrevendo certo pelas nossas linhas que se não fossem tão tortas, não teriam se cruzado. 


Tati Bernardi

1 comentários:

Kamila Behling disse...

Amo esse texto dela, amo!

Beijo pequena

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