terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Sozinho é aquele que não espera.

Colbie Cailat_ Bubbly

Eles não estavam trocando juras de amor, não andavam de mãos dadas, nem se chamavam por nomes infantis. Não tinha pieguice romântica ali. Mas foi a cena mais doce que eu vi: dois olhares se encontrando. Não só se encontrando: se confortando, se sabendo, se completando. Eu notei que eles eram algo além de amigos, que se desejavam e se protegiam, e foi só pela cumplicidade dos olhos, que deixavam de ser dois e se enlaçavam quatro.

Eu quis então ter um olhar pra mim. Não alguém pra chamar de meu, como diz o clichê, como grita a conveniência, mas um olhar que fosse meu por puro encaixe. Foi um pouco de inveja, talvez. Eu soube naquelas duas pessoas que elas não se sentiam sozinhas ou perdidas. Que mesmo depois de um dia cheio e chato, tinham uma certeza de carinho. E eu quis. Quis algo além da rotina do trabalho e gente fabricada com seus narizes perfeitos e cabelos penteados. Quis algo certo como o frio na barriga e a respiração travada, o coração esquecendo de bater. Quis algo errado que me fizesse bem só por escapar do caminho óbvio de toda noite. Uma espera no fim do dia, sabe? Essa espera. Não a espera de uma vida toda sem saber o que buscar pra ser feliz. Só sair do dia igual pra ter uma noite diferente. E tornar esse diferente comum só porque é bom estar perto.

Todo o amor que eu sufoquei por excesso de razão agora grita, escapa, transborda. Estou só numa multidão de amores, assim como Dylan Thomas, assim como Maysa, assim como milhões de pessoas; assim como a multidão de amores está só, em si. Demonstro minha fragilidade, meu desamparo. Eu não procuro alguém pra pentencer e ter posse, só quero uma fonte segura de amor que não dependa das obrigações, das falas decoradas, dos scripts prontos. Eu sei que eu abri mão de várias oportunidades. Sei que fiz pouco caso do amor que me entregaram de maneira pura e gratuita, só porque eu achava que não ia dar certo. Se as pessoas estão sempre indo e vindo, eu só queria alguém minimamente eterno em sua duração, que me fizesse parar de achar normal essa história de perder as pessoas pela vida.

Vou embora querendo alguém que me diga pra ficar. Estou sempre de partida, malas feitas, portas trancadas, chave em punho. No fundo eu quero dizer "Me impede de ir. Fica parado na minha frente e fala que eu tenho lugar por aqui, que não preciso abandonar tudo cada vez que a solidão me derruba. Me ajuda a levar a vida menos a sério, porque é só vida, afinal." E acabo calada, porque não faz sentido dizer tudo isso sem ter pra quem.

Eu não quero viver como se sobrevivesse a cada dia que passo sozinha. Não quero andar como se procurasse meu complemento em cada olhar vago. Eu acho que mereço mais que isso por tudo o que eu sei que posso fazer por alguém. E fico só esperando, na surpresa do dia que eu desencanar de esperar, um par de olhos que me faça ficar sem nenhuma palavra, nada além de dois olhos se enlaçando quatro. Nessa multidão de amores, sozinho é aquele que não espera.

3 comentários:

Anônimo disse...

Suspiros...

Bjs!

Anônimo disse...

Olá querida!
tem selinho no meu blog
Passa lá buscar!
Beijos meus
Tenha um ótimo dia!

Mar disse...

Amei esse texto, especialmente pela sutil contradição que um leitor desavisado talvez deixasse passar. O primeiro parágrafo tem duas situações aparentemente diferentes: os que trocam juras de amor, andam de mãos dadas e se chamam por nomes infantis – atitudes talvez de pieguice romântica; e os que se desejam, protegem e trocam olhares apaixonados... Mas elas não são diferentes. São algumas variações (e há uma infinidade de outras) de demonstração de amor, são casais resolvidos.
O que diferencia, sim, é o que vem nos parágrafos seguintes, o estado de solidão. Quem está à beira de dizer “me impede de ir”, diria “amorzinho, robertinho, marianinha” ou trocaria olhares discretos, ou mandaria flores, ou receberia e-mails surpresa...
Eis a contradição sutil. A personagem não quer alguém para chamar de seu – mas quer; no fundo, quer. Não quer o que fosse conveniente diante dos outros – mas como seria conveniente a si mesma! Pois somos nós mesmos nossos maiores cobradores...
Um texto interessantíssimo.
Um abraço carinhoso
Lello Bandeira

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